19 de mar. de 2012

Continuando a viver



Sem mais pensar se apoiou nos próprios punhos. Sentiu o peso de seu corpo sem controle por um fio. Chegou a achar que fosse perder o equilíbrio, mas se pôs de pé com toda a sua pouca força restante.
Não poderia ser o fim. Não daquela maneira. Ele deveria entender que ela sempre seria dele, não importa quanto tempo passasse, ela sempre estaria ali para ele, por ele. Aquilo que existia dentro dela não poderia ter um fim. Não antes que ela dissesse que tudo nela cheirava a ele. Que todo o oxigênio que expandia seus pulmões estava ali, mantendo-a viva na esperança de que ficassem juntos. Pelo menos mais uma vez.
Andou. Não parecia ter um rumo definido. Então foi, passos curtos, lentos, passos que não queriam estar por ali. Estavam sendo obrigados a seguir. Quando se deu conta estava ali novamente, em sua porta. Ele não estava ali. Nem ele, nem ela.
Acendeu o seu último cigarro e decidiu voltar para casa. Andou, correu, perdeu o fôlego inúmeras vezes enquanto às lágrimas tentavam apagar a ponta de seu cigarro. E por fim chegou. Ainda trêmula tentou enfiar a chave em sua porta, com várias tentativas frustradas. Até que em um ato de desespero conseguiu fazer com que a porta escancarasse, entrou, empurrou a porta, e se jogou na cadeira de sua cozinha imunda.
Lembrou-se de que não comia nada há dias. Não tinha mais vontade de fazer nada. Seu amor por ele ainda tão vivo dentro de si parecia alimentar sua fome e toda a sua esperança de dias melhores. A vodka estava acabando, e o cigarro lhe fazia falta naquele momento. Já não tinha mais nada do que precisava em suas mãos.
O dinheiro que lhe restava estava prestes a acabar. O seu excesso de tristeza havia lhe feito perder o último emprego. As contas se acumulavam em cima da mesa. A única coisa que lhe mantinha viva, era a mesma coisa que lhe fazia desejar a morte.
Talvez ela pudesse se livrar de todos aqueles pesadelos, mas antes ela precisava de dinheiro, de um trago, e talvez acalmasse os demônios que se aglomeravam em sua alma. Talvez fosse simples assim. Um trago, um gole, e o ar poderia voltar a circular novamente por ali.
Precisava dar um jeito em sua vida e aceitar que tudo havia chegado ao fim, mas não sabia nem ao menos como levantar dali e sair pelo mundo a procura de amigos, de um emprego, e de uma felicidade inexistente, que precisava passar a existir.
Ela conseguiria. Iria se libertar daquele amor que sempre a manteve presa em seus pensamentos e sentimentos. Bastava se lembrar de como era antes de conhecê-lo.

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