20 de jun. de 2012

Pouso de emergência


Prefácio

Não entendia como havia chegado naquele ponto. Tentou se lembrar de como foi que tudo começou. Lá estava ela, não sabia o que era o amor, ou ter alguém ao seu lado. Vivia de sonhos. Era pequena ainda, nova, não tinha medos, anseios, e muito menos via maldade nas coisas. Assim achava que seria, para sempre. Aquela era ela. Uma menininha, ainda descobrindo o que era beleza, e o que as outras mulheres fariam por ela. O que elas te diriam para se sentir horrível. Uma garotinha que sonhava em encontrar seu príncipe encantado. Alguém que em sua ternura desconhecia o medo, a insegurança, e a tristeza. Mal sabia ela que passaria a conhecer a tristeza como ninguém. Sentiria o peso do descaso nos ombros, e carregaria para sempre cicatrizes de tudo o que conheceu. Suas lágrimas pesariam as pálpebras até serem expulsas violentamente. O grito iria lhe fugir da garganta quando mais precisasse de socorro. Assim passaria a ser depois que ela fizesse suas escolhas, e crescesse através delas. Começou a escrever seus sonhos, compôs versos que só grandes poetas poderiam decifrar. Fez como seus ídolos, e passou a transformar sua vida em uma eterna poesia. Foi então que conheceu a primeira decepção de sua vida. Apaixonou-se, e conquistou alguém, tudo parecia novo e belo. E como nada dura para sempre, acabou. Durante todo o tempo que esteve com ele escrevia cartas, as mais belas, com todo o amor que achava possível existir naquele novo coraçãozinho. Primeiro trauma, frustração, e tristeza. Lágrimas suaves percorriam sua face. Ainda sim já parecia ser o fim do mundo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo com ela. Tinha que ser para sempre. Mas não era. Futuramente saberia o que realmente iria ser para sempre em sua breve vida. E assim sendo decidiu que os garotos não prestavam, e queria se manter o mais longe possível desse bando de seres babacas e infantis. Passou a ser só como antes. Sonhava que um dia seria feliz. Teria que ser. Não era esse o sentido da vida? Não. Não era, nem nunca vai ser minha doce criança. Um dia, depois de passar horas em frente ao seu computador, viu uma foto que lhe chamou atenção na hora. - Nossa! Que linda essa garota. Parou. Pensou. O que estava acontecendo com ela. Não poderia simplesmente achar uma mulher bonita, não daquela maneira. Estava desejando tê-la em seus braços. Precisava daquilo. Adicionou então a tal garota. Conversaram e decidiram se encontrar. Tudo parecia que ia dar certo. E deu, quer dizer, até certo ponto. Ambas foram acompanhadas de amigos. Abraçaram-se, e se distanciaram de todos. Entre muitas conversas, olhares profundos, e uma timidez inigualável, aconteceu. Duda a beijou com toda a vontade que mal sabia existir ali. Seus lábios eram macios, seu beijo suave, sua pele parecia seda, e fazia com que sentisse vontade de beijar-lhe toda. Acariciava seus cabelos, seu cheiro lhe invadia a alma. Arrepiava cada poro de sua pele.

- Eu te amo. Eu te quero.

Precisava dela em sua vida, como de oxigênio para manter sua vida. Simplesmente precisar estar ali, estar em seus braços. Amava tudo aquilo. Aquela sensação era indescritível.

Conto inacabado de um fim

Saiu do banho, se enrolou na toalha, olhou seu reflexo no espelho, e viu as cicatrizes de um amor perdido. Passou o dedo embaixo dos olhos, enxugando as lágrimas que se misturavam com gotas de água que escorriam de seus cabelos.Caminhou até seu quarto, e pela primeira vez ficou nua diante de si mesma. Observou-se, alisou o braço esquerdo, apertando com suavidade até a proximidade do ombro. Respirou. Aquilo já não lhe pertencia.Ainda nua sentou em sua cama, pegou um cigarro, colocou em sua boca, segurou entre os dedos, e bufou. Pensou por alguns segundos em tudo o que havia lhe acontecido. Acendeu e tragou aos poucos. Respirou novamente, enfiando todo o ar que pode abaixo.Não funcionou. Ele ainda estava ali com ela. Em algum canto, no meio daqueles milhares de pensamentos tão deprimentes quanto às cicatrizes aparentes.

Resolveu então ir a luta. Vestiu-se. Estava usando o seu melhor vestido, todas as tatuagens à mostra. O esmalte preto lascado, e a maquiagem borrada pouco importavam.

Tudo parecia ótimo. Ou não. Olhou-se no espelho de novo, e reparou nos seus olhos inchados. Quantas lágrimas passaram por ali, mesmo as mais solitárias estiveram naquele belo par de olhos. Manchados pelas mágoas de um passado nem um pouco distante.

Ela tinha tudo, e ao mesmo tempo nada. Faltava a coragem de levantar e sair dali, andando, correndo, ou como quer que fosse apenas precisava se mexer.

Abriu a velha geladeira, e lá havia alguns dedos de vodka. Virou a garrafa em um gole que parecia não ter fim. Engoliu, e limpou a boca com sua mão trêmula.

Aquilo parecia não ter fim. Mais um cigarro, e um último gole para lhe dar coragem.

Finalmente saiu, e depois de semanas presa dentro do seu quarto, viu centenas de pessoas desconhecidas passarem por ela, e ignorarem cada tristeza contida em seu rosto melancólico.

Pegou o primeiro ônibus que passou, sentou, e encostou a cabeça no vidro. Bateu a cabeça, e pela primeira vez nas últimas horas conseguiu pronunciar algo, mesmo que uma frase nada bonita.

Então chegou, desceu. Alisou o vestido como se quisesse modelar o tecido em suas curvas nada tradicionais. Tentou sorrir, mas desistiu logo que teve a idéia. Respirou profundamente e pensou que conseguiria. Parou ali, esperando que ele saísse e a abraçasse como sempre, mas não hoje. Ia bater na porta, mas de repente ela se abriu. Então o viu. Ele e ela. Mas não era ela.

Sentou, chorou, e decidiu que nada mais teria importância. Apertou as próprias mãos. Sorriu, e ao mesmo tempo derramou às lágrimas mais pesadas que suas pálpebras pudessem suportar. E então caiu, com todo o peso de uma culpa não exercida, e ali ficou.

Sem mais pensar se apoiou em seus punhos. Sentiu o peso de seu corpo sem controle por um fio. Chegou a achar que fosse perder o equilíbrio, mas se pôs de pé com toda a sua pouca força restante.

Não poderia ser o fim. Não daquela maneira. Ele deveria entender que ela sempre seria dele, não importa quanto tempo passasse, ela sempre estaria ali para ele, por ele. Aquilo que existia dentro dela não poderia ter um fim. Não antes que ela dissesse que tudo nela cheirava a ele. Que todo o oxigênio que expandia seus pulmões estava ali, mantendo-a viva na esperança de que ficassem juntos. Pelo menos mais uma vez.

Andou. Não parecia ter um rumo definido. Então seguiu. Passos curtos, lentos, passos que não queriam estar por ali. Estavam sendo obrigados a seguir. Quando se deu conta estava ali novamente, em sua porta. Ele não estava ali. Nem ele, nem ela.

Acendeu o seu último cigarro e decidiu voltar para casa. Andou, correu, perdeu o fôlego inúmeras vezes enquanto às lágrimas tentavam apagar a ponta de seu cigarro. E por fim chegou. Ainda trêmula tentou enfiar a chave em sua porta, com várias tentativas frustradas. Até que em um ato de desespero conseguiu fazer com que a porta escancarasse, entrou, empurrou a porta, e se jogou na cadeira de sua cozinha imunda.

Lembrou-se de que não comia nada há dias. Não tinha mais vontade de fazer nada. Seu amor por ele ainda tão vivo dentro de si parecia alimentar sua fome e toda a sua esperança de dias melhores. A vodka estava acabando, e o cigarro lhe fazia falta naquele momento. Já não tinha mais nada do que precisava em suas mãos.

O dinheiro que lhe restava estava prestes a acabar. O seu excesso de tristeza havia lhe feito perder o último emprego. As contas se acumulavam em cima da mesa. A única coisa que lhe mantinha viva, era a mesma coisa que lhe fazia desejar a morte.

Talvez ela pudesse se livrar de todos aqueles pesadelos, mas antes ela precisava de dinheiro, de um trago, e talvez acalmasse os demônios que se aglomeravam em sua alma. Talvez fosse simples assim. Um trago, um gole, e o ar poderia voltar a circular novamente por ali.

Precisava dar um jeito em sua vida e aceitar que tudo havia chegado ao fim, mas não sabia nem ao menos como levantar dali e sair pelo mundo à procura de amigos, de um emprego, e de uma felicidade inexistente, que precisava passar a existir.

Ela conseguiria. Iria se libertar daquele amor que sempre a manteve presa em seus pensamentos e sentimentos. Bastava se lembrar de como era antes de conhecê-lo.

Despertou e então se assustou ao ouvir seu telefone tocar. Não sabia se atendia ou não. Poderia ignorar e continuar naquele seu momento de melancolia, ou então atender, e assim expor o que estava acontecendo. Talvez ficasse simplesmente muda esperando com que falassem horas e horas, e dissessem que tudo ficaria bem.

Prendeu o choro, e segundos depois de atender pode ouvir a voz de sua mãe preocupada.

- Minha filha, o que está acontecendo contigo? Você está bem? Filha? Encontrei o...

Em prantos e soluços Duda respondeu com toda a agonia presente em seu coração.

- Foi horrível, ele me deixou. Simplesmente acordou, fez as malas e... E... Foi embora.

Tudo parecia perdido, ela estava sem rumo, e todos os caminhos pareciam levá-la para o mesmo lugar.

- Maria Eduarda, me escute: não é o fim do mundo. Talvez ele não seja o cara certo. Você é muito nova, minha filha, ainda vai sofrer muito. Sei que você encontrará a pessoa certa. Eu te amo, minha pequena.

Desligou. Duda não conseguia entender o que sua mãe queria dizer com tudo aquilo. Não naquele momento. Talvez aquilo fosse só para confortá- la, e bem, funcionou por um tempo.

Ela ainda não sabia o que fazer, estava prestes a descobrir. A primeira coisa a se fazer era dar um jeito na casa. Tudo cheirava a cigarro, e suas roupas cheiravam vodka barata.

Precisava de dinheiro, de amigos, e de uma nova vida, com novas pessoas.

Colocou suas roupas para lavar como se isso já fosse o suficiente para tirar as manchas de suas dores.

No dia seguinte iria à busca de sua felicidade. Talvez conseguisse alguma coisa. Talvez ao despertar pela manhã descubra que tudo não passou de um pesadelo. Quem sabe.

Tudo parecia em ordem, apenas algumas feridas ainda estavam abertas. O lixo estava recolhido, as roupas estendidas no varal. Depois de dias no silêncio sepulcral de seus pensamentos a música ecoava pelos cômodos de sua casa.

Tirou a roupa lentamente, jogou num canto qualquer no banheiro, e começou a gritar com toda a força existente em seu ser "Said, woman, take it slow and it'll work itself out fine. All we need is just a little patience."

A água escorria pelo seu corpo, fazia com que relaxasse e se sentisse leve e viva.

Saiu do banho, e ainda nua se lembrou da última vez em que alguém havia tocado em suas curvas. Não sabia mais o que era calor, excitação, ou apenas carinho.

Tudo deveria mudar. Algo tinha que acontecer e melhorar os últimos dias.

Ainda sem rumo colocou uma roupa mais formal, e foi para sua primeira entrevista de emprego desde que tudo acontecera.

Ao chegar notou que era a pessoa mais estranha ali presente. Seus cabelos eram como o fogo vivo, e seus olhos envoltos de carvão. Seus olhos cintilavam num azul tão profundo e dolorido que chamava a atenção de todos.

Chegou sua vez de mostrar porque estava ali, e ironicamente a responsável pelas entrevistas fez as perguntas erradas para Duda.

- Então, Maria Eduarda, é isso? O que te traz até aqui?

Sem jeito ela respondeu o que obviamente as pessoas pensam.

- Bem, eu quero trabalhar, e preciso.

O silêncio tomou conta da sala e então as perguntas continuaram.

- Só isso?

Com as bochechas começando a corar respondeu:

- Bem, como eu disse, quero e preciso trabalhar. Creio que entrar para essa empresa me dará grandes oportunidades de mostrar minhas habilidades.

Após mostrar um interesse maior, o clima pareceu ficar bem menos tenso.

- Me diga, você acredita em príncipe encantado?

Então num gesto impensado gritou.

- NÃO! Er, claro que não. Príncipes só existem em contos de fadas. Podemos encontrar a pessoa certa para aquele momento, o que não significa que algo vai se manter para sempre. O que eu quero dizer é que definitivamente não acredito nesse tipo de ilusão. É isso.

Tudo parecia perdido. Sentia como se tivesse posto tudo a perder. Então sem mais, nem menos, Rute, sua entrevistadora lhe dá as boas vindas.

Sem entender, sorri e pergunta:

- O que está acontecendo aqui?

- Seja bem vinda à Smart PNH.

Algo parecia ter dado certo. Finalmente a sorte estava ao seu favor.

Ela já não suportava mais ficar presa em seus pensamentos, reprimindo seus desejos, e seu jeito de ser. Achou que seria melhor encarar o mundo, e se libertar. Havia o mundo todo a sua volta a ser descoberto, e pouco tempo para percorrer os caminhos que lhe eram mostrados.

Decidiu então que não perderia mais seu tempo correndo atrás das migalhas que deixou pela estrada, acordou para a vida, estava saindo pela primeira vez sozinha, depois de tanto tempo.

A noite prometia. Era dia de rock na cidade. Todas aquelas pessoas que estiveram presentes em sua vida estavam por ali. Todo mundo com suas roupas pretas, e todas aquelas camisas de banda. Todas aquelas mulheres com seus cabelos coloridos, e olhos cobertos de preto.

Aquela agitação lhe fazia bem, uma felicidade contagiante tomava conta da sua alma. Ela queria pular, dançar, cantar, soltar a louca que esteve presa durante todo esse tempo.

Sem saber como, uma garrafa de vodka parou em suas mãos. Era tudo o que ela mais desejava no momento. Dançou, pulou, gritou, seus cabelos se agitavam de cima a baixo.

Então parou, começava a perder o controle do seu corpo, sentia o rosto quente, os olhos embaçados, e foi então que o viu. Alto, cabelos longos, ele transpirava heavy metal, e cheirava a vodka barata.

O tempo passava, a banda continuava a tocar, e cada vez mais os solos de guitarra se misturavam as vozes gastas. Sem perceber ele já estava ali entre todos os seus amigos, não conseguia tirar seus olhos dos dele. De repente tudo estava em silêncio, só conseguia olhar naqueles olhos. Ficou ali, paralisada, tentando recuperar o fôlego. A música voltou a tocar, e logo seus lábios se perdiam nos dele. Sua mão em sua nuca. Podia sentir o gosto do cigarro tocar sua língua. Ao mesmo tempo não sentia mais nada. Estava em transe. Não sabia mais o que era real. Só sabia que queria estar ali, naquele sonho, ou naquele pesadelo. Naquele momento ali parecia ser o seu lugar.

Como uma boa tola, que se apaixonada rapidamente por tudo e todos, ficou esperando, por dias e dias. Entrava em seu e-mail à procura de notícias. Mantinha o celular em suas mãos. Ficava imaginando que a qualquer momento iria ser feliz de novo.

Nunca sabia pelo o que esperar, sempre seria assim, até ela descobrir o que a vida lhe reservava.

O medo tomava conta de todo o seu corpo, lhe estremecia. Cedo ou tarde iria dar conta de que a realidade é bem mais dura do que se pode imaginar.

Não se sabe quanto tempo ela esperou, finalmente ele havia dado notícias. Vibrou de alegria. Agora tudo iria ter um rumo definido. Poderia planejar a sua vida, e seguir seus sonhos.

Precisava aprender que a tristeza, às vezes, pode superar uma alegria passageira.

Ele chegou. Segurou sua mão. Talvez não soubesse o que estava fazendo, mas fez o que estava acostumada a fazer. Deixou-se levar pelo impulso que sempre a dominava nesses momentos.

Ela o beijou com toda a felicidade que pode sentir naquele momento, com toda a angústia por ter esperado tanto por aquilo, e com toda a impulsividade que só ela poderia ter.

Deitou seu corpo em cima do dele, mordiscou-lhe o lábio, enquanto seus dedos passeavam pelo seu corpo. Tinha pressa. Tinha um desejo sem fim esperando por aquele momento.

Ele sentou, ainda com ela em seu colo. Beijou seu pescoço, o lóbulo de sua orelha, alisou suas costas, barriga, e por fim levantou sua blusa, tirou, e jogou longe.

Ela arranhava suas costas, mordia seu ombro, aproveitou e arrancou sua camisa.

Logo ele tirou seu sutiã, e abocanhou-lhe os seios. Arranhou suas costas, e a deitou na cama.

Após longos beijos, não havia mais o que tirar. Já estavam suados, e toda a excitação dos corpos nus que fazia presente. Transaram com ternura, sem pressa, e por fim trocaram todas as carícias que lhes eram permitidas.

Duda sonhava, aquilo não poderia estar acontecendo. Era bom demais para ser verdade.

Repetiram então todo o erotismo de antes, dessa vez resolveram transar loucamente. Dispensaram toda a excitação acumulada em suas veias. Queriam mais, muito mais.

Na exaustão dos corpos ficaram ali, entre beijos, abraços, carinhos, massagens, e uma vontade imensa de não por um fim naquilo.

Queria um longo beijo, queria um cigarro, e queria acima de tudo ficar ali, em seus braços, sem pressa, sem fim.

Uma segurança que há muito tempo não sentia foi invadindo seu corpo, sua mente, e toda a extensão do seu ser. Queria beijar-lhe todo o tempo, entrelaçar seus dedos nos dele, e até mesmo viver toda a sua vida ali, ao seu lado.

Chegou em casa e pensou que nunca mais o veria. Afinal, o que ele iria querer com uma mulher bêbada, e praticamente apaixonada? Nada. Talvez a iludir e nada mais.

A única coisa que Duda conseguia pensar é que os homens não prestavam, e ela menos ainda por acreditar que um dia encontraria a pessoa certa. Alguém que seria dela, assim como ela seria dele.

Os dias passaram, decidiu que não iria se envolver, que havia sido algo de momento. Algo bom, mas que não iria mais existir, apenas o que restou em suas lembranças.

Foi então que ela recebeu uma mensagem. Era ele. Logo começou a fantasiar coisas em sua cabeça. Ele havia se apaixonado. Talvez tenha apenas gostado do seu beijo. Ele queria vê-la. Mil coisas começavam a fazer sentido em sua cabeça, e nenhuma delas pertencia a realidade.

E sem se dar conta eles estavam juntos novamente. Sóbria ela não iria muito longe, mas ainda sim queria mostrar para ele o quanto poderia ser divertida sendo o que era.

Os lábios foram se encontrando, o toque ávido de suas línguas, as carícias, e todo o seu corpo pegando fogo. Ali estavam. Mal se conheciam, mas seus corpos pareciam ter sido feitos um para o outro.

Ele deslizava as mãos por sua cintura, e acariciava suas costas, por debaixo da camisa. Alisava sua nuca, beijava-lhe todo o pescoço, e mordiscava sua orelha.

O suor começava a deslizar em sua pele, e a excitação aflorava em seus beijos.

Olhou em seus olhos, não resistiu. Logo as roupas já estavam no chão. Ela em cima dele. Os lábios querendo devorar o que encontrasse. Pele sob pele em busca de prazer.

E depois de saciarem o desejo do corpo, era hora de saciar o desejo do coração.

Deitou a cabeça em seu peito, olhou em seus olhos, e então sorriu. Poderia ficar ali, sem se importar com mais nada.

Acendeu um cigarro, e ficou observando enquanto ele fazia o mesmo. Tudo parecia perfeito demais. Até acabar.

Loucura repentina

Estava sentada em um daqueles sofás em que se pode viver a vida toda. Grande, macio, couro preto, e logo em frente se encontrava uma daquelas mesas baixas, de uma madeira escura e brilhante. Segurava em uma das mãos um exemplar de “A vida, o universo e tudo mais”, na outra um cigarro com sua metade tomada pelas cinzas.

Olhava inquietamente por cima dos seus óculos gigantes, que faziam com que ela parecia uma personagem de algum filme americano dos anos 80. Sentava, deitava, repousava a cabeça no encosto, e ainda sim parecia não estar confortável, mesmo vestindo seu velho pijama de flanela, todo xadrez, como parte do seu guarda roupa.

O motivo de tamanha inquietação era ele. Vestia pijamas também. Estava sentado em uma daquelas poltronas em que nos jogamos no fim do dia. Os pés estavam para o alto, numa mesinha de centro pequena. Um cinzeiro, garrafas vazias de cerveja, e um pacote pela metade de salgadinhos.

Gritava, movia as mãos rapidamente, e conversava com os personagens na televisão como se eles fossem culpados por ele ser um mau jogador. Tolice.

Não conseguia se concentrar. Parava, o fitava por minutos e pensava: Não, não é ele. Nunca vai ser. Não pode.

Foi despertada pelos acordes Iron Man, se assustou, derrubou as cinzas no sofá, e levantou desesperada.

- Te assustei?

- Não, foi a música. Já acabou de perder para o Thor? – Duda falou e sorriu com desdém.

Sabendo que sua namoradinha estava irritada a deixou falando sozinha, foi até a cozinha, pegou mais uma cerveja, sentou no mesmo sofá em que ela estava, e ficou observando.

- Não vai falar nada? Pronto, estou aqui. Era atenção que você queria?

Ela fez cara de choro. Sentou ao lado dele, encarou seus olhos. Olhou para baixo. Então deitou em seu colo, acendeu um cigarro e pediu por um pouco de cafuné.

Por ela, poderiam passar horas ali, envolvidas no silêncio, apenas escutando o ar atravessar suas narinas, e a fumaça esvaziar seus pulmões.


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