14 de out. de 2012

O breu, o medo e o fim



Quando as luzes se apagam e o medo invade, a pele se arrepia ao pensar que o desconhecido se aproxima.
Quando percebo os olhos estão fechados e os dentes cerrados, lá estou, sozinha no canto sujo do quarto, perdida no breu, meio que como nos olhos tristes da menina.
Ouço passos.
Alguém se aproxima. Sinto que vou morrer, mas antes quero ver quem é que quer me levar daqui.
Abro os olhos, a chama de uma vela quase que no fim aparece diante do meu olhar medroso, desfocado, molhado nas lágrimas de despedida.
Os passos ficam mais próximos, a chama da vela se multiplica, e então um rosto pode ser visto.
Um homem se aproxima, chega bem perto, ilumina o canto imundo e corroído pelo tempo, e consegue vê-la.
Frágil, assustada, ferida, coberta de sonhos desprezados e angústias sem fim.
Não é assim que ele vê aquela cena.
Ele era alto, talvez um pouco mais do que ela. Simples e ainda sim elegante. Tinha olhos bondosos e um sorriso gentil. 
Ele ficou à alguns centímetros de seu rosto, olhou em seus olhos, e mesmo sem conhecer aquela pequena aberração maltratada pela vida, ele lhe estendeu as mãos e ajudou ela a se erguer.
Apoiou as mãos em suas costas, e assim ajudou ela a sair daquele lugar horrendo.
Estavam distantes, assim como a chama que agora se desfazia ali.
E então se apagou, como o despertar de um pesadelo que lhe tira da cama.
E assim, mesmo que em um sonho, ele veio lhe salvar.

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