27 de out. de 2012

Trechos do Pouso de Emergência

 Talvez fosse assim sempre. Poderia escrever um livro baseado em seu diário: "A ilusão de Duda".
 Se apaixonava, era abandonada, e assim se sentia um brinquedo velho, jogado as traças.
 Não tinha mais forças nem para respirar. Sentia o ar pesado, e o peito cansado demais para inspirar e expirar suas tormentas.
 Tudo o que restava em sua vida e em seu sangue eram doses extremas de nicotina e destilados. Sobrevivia como uma moribunda na beira do abismo de suas emoções transgressoras.
 Em seu braço suas cicatrizes não queriam abandoná-la, faziam questão de permanecer expostas para que ela revivesse cada momento ruim e toda a dor que já havia lhe invadido as entranhas.
 Havia desistido. Tinha tomado a decisão mais óbvia de sua vida: daria um passo de cada vez. Queria se curar, precisava ficar bem, para então conseguir ter alguém do seu lado que realmente merecesse sua atenção.
 Então um dia ele veio. Talvez um daqueles príncipes dos antigos contos de fadas.
Quantas vezes ela havia negado a existência desse mundo infantil?
Quando percebeu já estava viciada naquele sorriso. Contava as horas para escutar o atrito de seu all star no chão. Já sabia exatamente o que ele fazia e como. Estava sempre observando seus gestos.
Sonhava em tê-lo em seus braços. Mas ela tinha muito medo, é o que a decepção nos faz.
 Tentou esquecer o que estava sentindo. Quem sabe logo tudo ficaria bem?
Logo ela estava se iludindo novamente, dessa vez com ela mesma.
Depois de algum tempo, não se sabe quanto, ela já havia desistido de desistir.
Quanto mais ela queria esquecer e ignorar o quanto desejava estar em seus braços, mais ela percebia que isso seria impossível.
 Era só fechar os olhos que logo ele estava lá. Beijava-lhe com tanta ternura e avidez, era tão ardente. E mais uma vez confundia a realidade com suas expectativas que nunca se alinhavam.

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