
Lá não se podia ouvir nada além do barulho frenético de carros e pessoas, com tanta pressa de saírem dali, que às vezes esqueciam da felicidade.
Em seu outro mundo os carros não buzinavam mais alto que o canto dos pássaros, e as pessoas não pareciam ter tanta pressa de sair de lá espalhando o mau humor.
Lá se via o céu e sentia a brisa, as cordas do violão se moviam como os lábios de um casal, tão suavemente que sua respiração virou melodia.
Dava para ouvir o barulho dos gatos fazendo bagunça, enquanto o silêncio dominava, e casais apaixonados se amavam.
Foi lá que um dia ela nasceu, e aprendeu que a água corre sob seus pés, e que as rosas sempre estarão em seu jardim, enquanto houver esperança.
Cresceu, e junto expandiu seu pequeno coração, repleto de tanto amor, que acabou descobrindo que às vezes o que é bom acaba ferindo a alma.
Já não se sabe se suas lembranças são reais ou fruto de um lapso instantâneo.
Só se recordar de haver alguém tão parecido com ela, que não pode enxergar.
Viu uma versão triste de si mesma, cheia de ausências e excessos. Tão diferente do que ela mesma conhecia, que acabou lhe causando náuseas. O reflexo de si mesma deprimida lhe causou tanto pânico que decidiu procurar um pouco de felicidade, aonde quer que ela possa estar.
Só mais um gole, só mais uma música, talvez um cigarro, e tudo vai ficar bem.
Mais uma lágrima, e outra dose, e ninguém vai perceber que ela passou a noite anterior chorando.
Ela não acreditava mais na vida, nas pessoas, e muito menos no amor, até que um dia ela sonhou que seu mundo ideal ainda existia, aonde a felicidade se sobressai na tristeza, e alguns goles fazem o azul dos seus olhos se tornarem tão brilhantes, que ninguém poderia desconfiar que aquela mulher, dançando sozinha, sorrindo e cantando, poderia ser aquela menina.
Aquela que havia ficado presa em um mundo fora do seu, mas acabou sonhando com a vida, e após mais um trago, decidiu que queria ser feliz. Decidiu que após a última dose seria ela mesma, e não um reflexo mal feito de uma garota perfeita.
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