18 de mar. de 2012

Conto inacabado de um fim



Saiu do banho, se enrolou na toalha, olhou seu reflexo no espelho, e viu as cicatrizes de um amor perdido. Passou o dedo embaixo dos olhos, enxugando as lágrimas que se misturavam com gotas de água que escorriam de seus cabelos.
Caminhou até seu quarto, e pela primeira vez ficou nua diante de si mesma. Se observou, alisou o braço esquerdo, apertando com suavidade até a proximidade do ombro. Respirou. Aquilo já não lhe pertencia.
Ainda nua sentou em sua cama, pegou um cigarro, colocou em sua boca, segurou entre os dedos, e bufou. Pensou por alguns segundos em tudo o que havia lhe acontecido. Acendeu e tragou aos poucos. Respirou novamente, enfiando todo o ar que pode abaixo.
Não funcionou. Ele ainda estava ali com ela. Em algum canto, no meio daqueles milhares de pensamentos tão deprimentes quanto as cicatrizes aparentes.
Resolveu então ir a luta. Se vestiu. Estava usando o seu melhor vestido, todas as tatuagens à mostra. O esmalte preto lascado, e a maquiagem borrada pouco importavam.
Tudo parecia ótimo. Ou não. Se olhou no espelho de novo, e reparou nos seus olhos inchados. Quantas lágrimas passaram por ali, mesmo as mais solitárias estiveram naquele belo par de olhos. Manchados pelas mágoas de um passado nem um pouco distante.
Ela tinha tudo, e ao mesmo tempo nada. Faltava a coragem de levantar e sair dali, andando, correndo, ou como quer que fosse, apenas se mexer.
Abriu a velha geladeira, e lá havia alguns dedos de vodka. Virou a garrafa em um gole que parecia não ter fim. Engoliu, e limpou a boca com sua mão tremula.
Aquilo parecia não ter fim. Mais um cigarro, e um último gole para lhe dar coragem.
Finalmente saiu, e depois de semanas presa dentro do seu quarto, viu centenas de pessoas desconhecidas passarem por ela, e ignorarem cada tristeza contida em seu rosto melancólico.
Pegou o primeiro ônibus que passou, sentou, e encostou a cabeça no vidro. Bateu a cabeça, e pela primeira vez nas últimas horas conseguiu pronunciar algo, mesmo que uma frase nada bonita.
Então chegou, desceu. Alisou o vestido como se quisesse modelar o tecido em suas curvas nada tradicionais. Tentou sorrir, mas desistiu logo que teve a idéia. Respirou profundamente e pensou que conseguiria. Parou ali, esperando que ele saísse e a abraçasse como sempre, mas não hoje. Ia bater na porta, mas de repente ela se abriu. Então o viu. Ele e ela. Mas não era ela.
Sentou, chorou, e decidiu que nada mais teria importância. Apertou as próprias mãos. Sorriu, e ao mesmo tempo derramou às lágrimas mais pesadas que suas palpebras puderam suportar. E então caiu, com todo o peso de uma culpa não exercida, e ali ficou.

Um comentário:

Feliciano disse...

Muito bom, não desista!