3 de set. de 2012

Pouso de Emergência - A fuga existencial

A fuga existencial



Claro que ela não acreditava em príncipe encantado, haviam tantas feridas em seu coração, corpo e alma, que tentou fazer do amor apenas um complemento.
Tinha tantos traumas, dores, medos, tantos anseios, e ainda sim talvez não tivesse nada.
Foi o que Duda se tornou: um nada diante da vida.
Sempre acabava sozinha, jogada em sua cama, escutando a mesma música várias vezes até o choro cessar.
Já havia desistido dos seus sonhos, seus planos eram fúteis, seu amor era como um rascunho inacabado.
Então, sem mais, menos, ou qualquer outra coisa que pudesse citar, pensar... Enfim, foi como se tivesse visto o seu reflexo. Já acontecera antes, mas assim? Com tantos detalhes iguais? Seria mais do mesmo? O próprio? Ou finalmente o certo?
De repente estava repleta de mistérios. Fascinada. Quero saber mais, muito mais do que estava vendo.
Era ela? Talvez. Quem sabe um pouco de amor, dessa vez para sempre.
Nada disso faz sentido pensando assim. Ou faz? Ah, já não sei o que dizer.

- Ok, eu vivo dizendo que não tenho mais expectativas, mas e agora? E todo esse fascínio? As descobertas? Os sonhos? E o amor? O que eu faço com todo esse amor?

Amar sozinha? Amar em vão? Como gostaria de não amar mais ninguém. Ao mesmo tempo ama todo mundo, espera coisas boas, e o resultado pode ser visto claramente sob os punhos.
São tantas palavras, tantos versos, tanta ladainha que sai da boca dos outros. Para que?
Me deixem. Talvez só eu não me machuque tanto.
Mas não, sozinha eu não vivo. Odeio depender do amor dos outros. Odeio depender do meu amor.
De novo o amor? É! É algum tipo de perseguição? Amor demais? Amor de menos?
Por favor, amor. Por favor, me deixe aqui. Cansei dessa brincadeira de gato e rato. No final eu saio mais devorada que a carne atirada aos lobos.
O pior é que eu ainda acredito nessa besteira de amor.
Ainda quero viver o meu conto de fadas. Mas como? Sem príncipe? Sem princípios?

- Cale-se Duda!
-É muita loucura ir adiante.

- Por que me calar quando o que eu mais quero é gritar?
- Então se esvaia. Jogue todo o seu sangue para fora. Deixe sua alma partir. Diga adeus aos seus medos.

- Não, não posso. Vivo de amor, respiro sua vida.
- Você se engana demais, pequena. Você não precisa de amor. Você não precisa de nada, nem de ninguém.

- Cala a boca, me deixe em paz.
- Paz? Sua tola! O mundo te faz de gato e sapato e você ainda quer amor? Quer ser amada? Se entregue as traças. Desista!

- Prefiro ser uma tola apaixonada, do que uma pobre alma solitária e amargurada, sedenta de prazeres e carinhos.


Viva na sua imaginação. Deixe-se levar. A vida te arrasta, te guia, te puxa.
Que loucura! Ela discutindo com seu ego inflado e ferido. Ridícula!


Toda essa tortura porque viu além do que poderia.
Quis conhecer todas as vírgulas daquele livro. Todos os pontos. Talvez quisesse reescrever o final.
Ela só quer esvaziar a cabeça, esvaziar o coração e esbanjar amor. Só quer alguém que entenda que toda a sua loucura não é tão insana assim.
Dentro dessa aberração existe um coração tão gigante, que está quase me fazendo explodir.

- Não enche Duda, vai dormir e fique quieta no seu canto. Eu não aguento mais você.
-É, nem eu.

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