3 de mar. de 2013

Devaneio matinal

 Como dói! Respirei a raiva junto com o oxigênio, sinto agora que ela está nadando em minhas veias, junto com o meu sangue sujo, com as minhas mentiras, com todas as minhas meias verdades. Sinto todo esse ódio dissolvendo minhas artérias.
 Sinto como se eu pudesse apenas ter isso em mim.Sinto o vazio dos meus sentimentos, de tudo o que escorregou entre os meus dedos. O que seria tudo isso? Tudo o que eu não tenho, mas ainda sim permanece tão vivo aqui dentro.
 A tola havia se levantado do seu caixão, deixou a poeira cair sobre os seus pés. Seu nariz podia sentir a podridão daqueles anos em que esteve presa, dentro daquela caixa minúscula, assim como ela mesma poderia se sentir. Tão pequena que poderia desaparecer à qualquer momento, ninguém notaria. Nunca.
 Tanto tempo sem se mover, tantas lágrimas contidas em seu choro privado. Tanta coisa ela perdeu quando se esqueceu nesse seu mundo de ilusões e devaneios. Quanto amor ela esbanjou, derramou e escorregou nele próprio em seguida.
 Parecia que ela havia dormido durantes décadas. Em sua volta tudo estava tão diferente, mas dentro dela sempre era aquele vazio. Algo dentro dela queria voltar a dormir, para sempre.

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