4 de jul. de 2013

Ao sul do inferno existencial

O maior sonho de toda a minha vida foi ser mãe. Eu passava horas em meu delírio imaginando o quanto eu estaria feliz. Pensava na minha barriga crescendo, nas compras para o bebê, na ultra sonografia e em toda a minha ansiedade para ter meu bebê em meus braços. Ficava pensando em como seria o seu rostinho, suas pequeninas mãos, e no meu imenso amor se ampliando a cada dia.
No dia em que descobri que estava grávida eu chorei. Não consegui ficar feliz porque sabia que não era o que meu noivo queria, não naquele momento. Então o meu choro de felicidade se transformou no choro do meu pesadelo.
Eu juro, eu queria era rir e comemorar. Eu queria contar que estava grávida como planejei por anos. Eu já tinha tudo esquematizado, mas nada saiu como meus planos e meus sonhos que tantas vezes me motivaram a viver, quando o que eu mais queria era deixar de existir.
Então eu me tranquei do banheiro e fiquei por lá deixando as lágrimas rolarem. Eu pensava: "Por que meu Deus? Por que justo agora que eu já tinha desistido. Por que?", mas Deus não me respondia. Naquele momento Deus estava mudo diante de mim. Ali já era tarde demais para voltar atrás, então era hora de tomar todas as decisões da minha vida de uma só vez.
O meu "amor, estou grávida" de uma manhã de sábado, acompanhado de um belo copo de suco de laranja e uma caixinha contendo um par de all star vermelho para bebês, seguido de um sorriso, se transformou em uma SMS de "deu positivo" e uma ligação de "faça um exame de sangue".
Então eu vi que o início daquele momento mágico, do sonho de uma vida, não passava do começo das coisas saindo do eixo e dos meus sentimentos mais puros e inéditos sendo substituídos por dor, não somente dor física de cólicas e meu útero em expansão, mas principalmente a dor emocional de ver que já no primeiro instante as coisas não seriam como um dia havia passado pela minha cabeça.
Não, eu não imaginei que seriam mil maravilhas, mas eu pensei que seria um momento feliz. O início do meu viver felizes para sempre. Ou simplesmente a concretização de um sonho.
Por um momento eu me senti sozinha. Eu estava perdida no meu próprio labirinto de sonhos falhos, e não que eu ainda não permaneça nele, mas é que agora sinto que cai em algum buraco sem fim enquanto tentava escapar do "Labirinto do Fauno", aonde sangue puro deveria ser sacrificado em troca de uma promessa de que as coisas iriam ficar bem.
Quando eu me pego em um momento feliz, sozinha em meio ao meu turbilhão de pensamentos, uma chuva de meteoros resolvi atravessar o céu do meu labirinto, acabo correndo para o lugar errado de onde eu nunca deveria ter saído, mas que às vezes quero fugir, como dizem, assim como o diabo foge da cruz.
Às vezes eu me olho no espelho e vejo que minha barriga já está tomando outra forma, que estou ficando com cara de grávida, e fico feliz. Mas às vezes eu mal passo em frente ao espelho e as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto.
Desde que descobri que estava grávida eu nunca mais tirei uma foto de mim. Nunca mais me olhei da mesma maneira. Me sinto feia, esquisita, e isso porque meu corpo nem começou a mudar ainda. Não consigo mais me maquiar, usar perfume ou pensar em usar uma roupa mais bonitinha.
E eu não sei ao menos se o problema sou eu ou se foi o começo de tudo.
Eu não sei se eu não fiquei feliz ou se não me permitiram experimentar a felicidade.
Eu não sei se eu não queria ou se não queriam e assim me mente se fez escolher.
Só sei que todos os meus sonhos passaram a fazer parte de escolhas distintas.

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